terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Quadrilogia Parte 2: Harry Nilsson - Son of Schmilsson (1972)


Se o outro album já tinha ligações com os Beatles (o outro contrabaixista, que tocou na maioria das músicas do album foi Klaus Voormann - o mesmo amigo da alemanha e quem projetou a capa do Revolver, dos Beatles), neste album o ciclo se torna praticamente implícito com a gravação de parte do disco nos estúdios da Apple em Londres e a participação DIRETA de dois ex-beatles... Ringo (creditado como Richie Snare) toca bateria praticamente o álbum todo e um ouro Beatle que vou falar na hora certa.
O clima do disco é instrumentalmente o mesmo presente no último (Nilsson Schmilsson) porem dessa vez o teor das letras em sua maioria viram praticamente piadas (como se eles estivessem se divertindo apenas com eles mesmos). Dá certo pois o disco é ótimo... não pras paradas de sucesso que ainda estavam com Without You na cabeça..

"Take 54" é a música que abre o disco já no clima pesado pra menores de idade bem entendidos (fala calarente de um "mão nisso e mão naquilo" de uma visitante durante as tentativas de gravação de uma canção) que vem com um ótimo solo de sax e uma "apresentação macabra" logo no fim da faixa (praticamente uma vinheta no disco) que relembra muito aqueles filmes de terror de orçamento baixo dos anos 50/60:

 - SON OF SCHMILSSON! (uma voz bem grave cheia de eco e ao fundo um grito constante de mulher)
 - Ahn? what's goin' on man? Hey, Who said that? Harry, is that you?
 - SON OF SCHMILSSON! (agora um barulho de lobo uivando)
 - hehe, that's not funny man, what is the "sourd"of a...a... what is so kind a...What did you get the sound effects from?
 - RCA...RECORDS AND TAPES (E uma risada macabra de Nilsson logo após)

"Remember (Christmas)" é a segunda faixa, a mais séria do album? Com certeza: O piano é de Nicky Hopkins ( o mesmo que fez o solo de Revolution, dos Beatles) e uma voz calma e certeira de Nilsson... chega a fazer parte de coletâneas.. mas nem todas. Uma tristeza pois é uma bela canção.

"Joy" é a música country do disco... Mais uma hilária sendo séria nesse disco. Totalmente recitada em suas estrofes, tirando o coro do refrão. Ela chegou a sair sem créditos a Harry (usando um pseudonimo de Buck Earl) para fazer graça, mas também não deu nada. Uma música muito boa, mas infelizmente esquecida.

"Turn on your Radio" é uma música séria que quem pegar o violão e for tocar a mesma vai perceber que pegando suas notas da introdução dá pra indiretamente tocar uma parte de Blackbird dos Beatles... descobri quando estava tocando essa canção. Muito simples também, valeria um single.

"You're Breaking my heart" tem a participação de George Harrison (creditado a George Harrisong no disco) mas apesar de todo o solo o que fica em destaque é a primeira vez que em um disco de Nilsson rolou não um palavrão, mas várias vezes!

"You're breakin' my heart

You're tearin' it apart
So fuck you"

ou em outra frase:

"You stepped on my ass".


O legal é a edição específica dessa música em alguns países: no Brasil, toda vez que se falava a palavra "Fuck" ela era trocada por um efeito de Marretada, e "ass" foi trocada por praticamente um apito de fábrica, só escutando pra você ter uma idéia.

Vira-se o lado do disco e vem uma das músicas mais bem preparadas e arranjadas do mesmo: "Spaceman" chegou a virar single mas também não conseguiu surtir efeito. Tem um belíssimo arranjo de orquestra!

"the lottery song" É simples? É, a melodia dela não passa de uma parte só, mas o destaque mesmo é os arranjos vocais que vão chegando cada vez mais até o fim da canção (bem parecido com o "chegar" de vozes em Coconut e Good Times Roll).

"At My Front Door" (Ewart B. Abner, John C. Moore)é o primeiro e único cover do albúm, que pela segunda (e última vez) tem uma vinheta pra mostrar a piada até com as próprias canções do album:
Começa a mesma como se fosse recomeçar "remember", porém:

 - Long ago/Far away (e vem de repente um arroto daqueles de bebado carregado) excuse me (e todo mundo do estúdio cai na risada)

Começa enfim a canção, mais uma das bem animadas do álbum, mas no final dela vem algo que já anuncia o que 2 albuns a frente seria um problema bem feio para Nilsson: Quase no fim da canção ele está fazendo um agudo altíssimo, para, e começa a frase que foi quase eliminada da versão oficial, mas como estavam todos gravando ao vivo esta canção, acabou vazando um "i can't keep it anymore" ou "i can't take it anymore", sinal que a voz de Harry não estava mais aguentando seus velhos agudos...*

 * durante a gravação do album "pussy cats" (o famoso album produzido por John Lennon, gravado em 1974), Harry Nilsson simplesmente Rompeu uma prega vocal... a recuperação total só aconteceu 3 anos depois em 1977.

"Ambush" é literalmente uma marcha de guerra, talvez a música mais perto de um protesto gravada e escrita por Nilsson, fala sobre todos se manterem juntos e cantando pois se (ou quando) a música acabar o inimigo vai abrir fogo. Pode estar falando sobre qualquer manifestação da época, seja no local ou em outro canto do planeta (se tratando do ano, 1972, pode estar falando claramente das manifestações contra a guerra do Vietnã- se tratanto de Nilsson ser americano, pode fazer todo o sentido). A guitarra solo dessa música, como da maioria das músicas desse disco ficaram por conta de Peter Frampton!

"i'd rather be dead" (Nilsson/Richard Perry) é mais uma das músicas "engraçadas" do álbum, mas que chega a falar uma verdade que acho que ninguem quer pra si: Preferir morrer do que molhar as calças.
Até aí tudo bem, é uma verdade. O que torna a faixa bizarra é que Nilsson não canta ela sozinha: Ele chamou vários velhinhos para fazerem parte não só do coro como cantar estrofes da canção!
Até eu ver o documentário "did somebody drop this mouse" (que fala sobre a gravação total do album Son of Schmilsson, mas nunca foi lançado oficialmente),eu não acreditava se tratar literalmente de velhos, mas lá estavam eles cantando. Alguns ofendidos pois não sabiam qual seria a música a ser cantada, e outros se divertindo, pois ela foi gravada literalmente ao vivo em estúdio em um clima de festa com direito a bebida!

"the most beatiful world in the world" é a faixa que fecha esse disco. E se acham que ela passa despercebida como a última de Nilsson Schmilsson (i'll never leave you). Ela fala do mundo que é vivido num relacionamento e a certeza de que não vale a pena sair de lá (até parece mesmo com i'll never leave you) mas essa tem uma sutileza totalmente Nilsson/Perry: De repente a música para o pop e se transforma em uma obra literalmente clássica (inclusive no documentário mostra Harry gravando a mesma ao vivo vestido com seu famoso Robe (que estampa a capa do Nilsson Schmilsson) e que era sua peça de roupa favorita.

Ela fecha com um simpático tchau tchau:

 - So long, folks! (Harry)

 - Goodbye, Harry. (Perry)
 - See you next album, Richard.(Harry)
 - GOODBYE! (os dois).

A tristeza é que os dois nunca mais trabalharam juntos em um album de Nilsson. Porém no ano seguinte os dois estariam juntos mais uma vez para essa festa entre amigos...

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