A felicidade para os fãs da parte psicodélica de Ronnie Von foi o relançamento dos discos em lp.
A minha tristeza é que o povo não conheceu ainda uma fase dele que pra mim foi mais forte que os discos entre 1968 e 1971.
São discos realmente roqueiros, no Máquina voadora começa a aparecer um pouco dessa veia roqueira na própria faixa.
Eu escolhi desses discos dessa fase "esquecida" o álbum de 1973, o que me cativou de cara.
Vou tentar explicar o porque dessa "nova fase":
A partir do compacto "minha gente amiga"(1971) surgiu um lado diferente de Ronnie Von... Começou a trabalhar compondo canções com o multi-instrumentista Tony Osanah, explorando um lado mais religioso (me refiro ao Candomblé),a voz estava mais forte, mais rouca, os arranjos cada vez mais virados pra o rock and roll. O que se confirmou logo após no compacto "Hey amigo" e no lp de 1972 (de onde saiu "Cavaleiro de Aruanda"), mas o disco de 1973 é o ápice dessa fase...
A equipe técnica é a mesma: Arnaldo Saccomani (sim, aquele do ídolos mesmo)na produção e a maioria das músicas de autoria de Ronnie Von e Tony Osanah exceto quando indicadas...
Neste álbum os detalhes técnicos foram mais detalhados na capa do lp, mas mesmo assim os músicos continuavam a não serem conhecidos do público (e até hoje eu não sei quem são).
O disco já abre com uma big surpresa: "(as coisas vão e voltam)mas acabam em Rock and Roll" que pros curiosos já começa com arranjos de Zé Rodrix que tinha acabado de começar sua carreira solo (ele tinha acabado de sair do trio "Sá, Rodrix & Guarabyra" e estava quase terminando o seu primeiro disco solo, "1º Acto").
É uma música cheia de metais e um coral simples (uníssono) e uma bateria que vai em um Bate estaca do início ao fim da canção, mas não se espante pois tudo nessa música se casa muito bem, infelizmente não virou single, mas merecia!
O sucesso do álbum é a segunda faixa do disco, "Banda da Ilusão" (Alberto Luiz) que fala na letra indiretamente em seguir em frente... sabe-se lá qual o motivo, mas casou super bem com a letra e os arranjos de Zé Paulo Soares (Maestro que ficou mais conhecido por seus trabalhos a partir dos anos 80 para vários artistas), o clima do disco continua nos metais pesados agora acompanhados de uma guitarra levemente distorcida que casou muito bem com todo o resto (inclusive com uma pitada de banda de coreto durante o solo da música, é rápido mas deu certo). A mesma foi lançada em compacto (acompanhada de outra faixa do disco que falarei mais tarde) e também em lps de parada de sucesso da philips (inclusive um compacto que eu já vi que veio a famosa música de Odair José "pare de tomar a pílula que, no compacto que vi, veio totalmente censurada- com direitos a arranhados feitos dentro da gravadora para que a mesma não tocasse de jeito algum).
"Gira girou" (Adilson Godoy) é outra das músicas que remetem a cara dessa nova fase de Ronnie Von, ela lembra sim música de terreiro (como Cavaleiro de Aruanda, inclusive com o mesmo arranjo para o coral que tornam a música ainda mais peculiar), mas essa é totalmente certeira para uma roda de Capoeira, os arranjos de Tony Osanah te levam a se imaginar dentro de uma roda de Capoeira e vendo tudo acontecer. A música abre e fecha com um berimbau tocado de forma precisa que combina com todo o peso da canção. Outro big motivo pra se escutar a canção, também esquecida...
"Velho Sermão" (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro de Souza) é a quarta música do disco e o lado B do compacto "Banda da Ilusão". Os arranjos ficam por conta do próprio Ivan Lins que com certeza toca o piano base da canção.
Nota especial: Nesta época Ivan Lins estava revendo toda a carreira até então, não existe um disco dessa época, mas existiam pelo menos 6 canções para um novo disco (se você juntar com "não tem perdão"-gravada ao vivo no Phono 73-, o compacto "quero de volta o meu pandeiro/tomara"-lançado em 73, velho sermão-que foi lançada pelo próprio Ivan em 1977 no disco "somos todos iguais nesta noite"- , "Deixa eu dizer"-título e uma das músicas gravadas pela cantora Cláudia, em 1973 mesmo - e "oito pecados capitais"- a canção já estava gravada, mas só veio a conhecimento do público em 2002 quando os discos da philips foram relançados em cd). Fiz essa pergunta ao próprio Ivan e assim que ele der um parecer sobre essas músicas eu atualizo esse post!
"Linda Morena" (William Verdaguer, também arranjador da faixa) é uma música que é talvez uma das mais simples do album, passa tão rápida, mas se encaixa perfeitamente ao disco. O destaque fica pelos backing vocals.
"Deus Sul Americano" é uma das faixas que me chama a atenção não só pelos vocais como o arranjo simples de "capacete"(que arranjou outras duas canções do mesmo album) que conta com violão, órgão, percussão e uma quase imperceptível orquestra ao fundo.
A mesma chegou a sair em compacto junto com "certo e errado" por uma outra subsidiária da philips (MGM records)no ano seguinte, sendo que este disco em questão que estou descrevendo aqui é da polydor (o último de Ronnie Von pela gravadora).
Virando o disco vem outra singela canção: "Santa Maria", outro arranjo de Tony Osanah para o disco. Uma canção totalmente religiosa, mas nada de apologia, apenas um modo diferente de falar de Nossa Senhora sem parecer um sacrilégio. Lembra muito o arranjo de "Deus sul americano", mas também não deixa a desejar nada quanto ao contexto do álbum em si. Caiu como uma luva para o início do lado B.
"Você se foi" (Helio Matheus) é talvez a música mais calma do disco, fala de alguém que partiu e a vida que se tenta tocar em frente, os arranjos ficam mais uma vez na mão de José Paulo Soares. Ela chegou a sair em compacto cantada em espanhol junto com Banda da Ilusão em 1974.
"Essas coisas acontecem Sempre" (Zé Rodrix/Tavito) É outra big canção desse disco. Tem arranjo e a participação do próprio Zé Rodrix (é ele quem chama a contagem do início da canção). A versão dessa música ficou tão boa que não consigo dizer para vocês qual é a melhor versão (pois a outra versão da mesma está presente também no 1º acto, primeiro disco solo de Rodrix em 1973). A voz de Ronnie Von cai como uma luva para essa versão que ainda tem direito a uma pequena Jam no fim da canção (pegue a canção no fim e vá aumentando o volume para você perceber que o clima vai esquentando entre os músicos).
"Ana Maria" (Arnaldo Saccomani), outro arranjo de "capacete". O clima dela é parecido com "linda morena", passam rapidamente sem deixar uma grande marca no disco, apesar do solo de sax e o coral serem o diferencial da mesma.
"Amores Perdidos no ar", outro arranjo de "Capacete" (quem é esse, meu Deus do céu, hehehe) que dessa vez aparece com um arranjo totalmente diferente das outras canções que o mesmo fez para o disco, talvez o melhor! Começa e termina com um solo arrojado e simples de baixo que caem como luva para a canção que tem um arranjo de metais extremamente arrojados, não deixe essa canção passar batida!
"Os frutos do amor" (Tony Osanah, arranjador da mesma também) é uma música centrada numa mesma melodia a canção inteira, mas de um arranjo ao mesmo que simples, muito arranjado! Desde o baixo fuzz constante, ao órgão e violão base e a letra que falaria da segunda volta de Cristo? Escute a mesma e tire as suas conclusões.
É um disco que eu me pergunto até hoje por que não foi descoberto por esses fãs de Ronnie Von e seu lado roqueiro... esse álbum não deixa nada a dever. É um álbum totalmente coeso e até em seus momentos fracos se sai super bem!
Achar o mesmo em lp? É bem dificil... demorei mais de cinco anos para achar o meu por um preço bem bizarro para um álbum desconhecido de seu valor musical (40 reais).
A coisa seria esperar uma reedição em lp? Por que não né?
Abração e até a próxima limpada de agulha!
Katz, o tal "capacete" está no album 'Tim Maia - 1970', como baixista. Na real,o cara é mais baixista que arranjador, oque não desqualifica o trampo do cara. O nome dele é Roberto B. H. de Azevedo (Pelo menos este foi o único nome que achei depois de vasculhar varias fichas tecnicas com o Saccomani como produtor)
ResponderExcluirSó achei isso depois de alguns meses (quase um ano XD)investigando esse album do Ronnie, que pra mim é um dos mais impecaveis e o álbum que mais prova o lado rock n roll do cara (lembrando que o proprio já citou varias vezes que um som mais 'pesado" sempre era escondido, como um ou outro por cada álbum, por conta das gravadoras serem muito negativas em relação a isso)
Não sei você, mas eu adquiri a doença de "ler a ficha tecnica dos lps e ficar procurando um por um, em varios lp's e encher o saco de colegas mais experientes em busca de informação no meio da madrugada" :p
https://www.youtube.com/watch?v=XExVFxWEeYE
ExcluirO Capacete era o baixista nesse som